Educação
Ambiental e os Movimentos Sociais: A Responsabilidade é Global
Lídice Gomes Pimenta da Silva Pereira.
Sou professora de História da Rede Pública de Ensino e coordeno o Pré-Vestibular
Comunitário Educafro de Governador Valadares, tendo outras militâncias nos
movimentos sindical e social, como no Sinfrajupe, que é um movimento das bases
da Igreja Católica que luta por Justiça, Paz e Ecologia.
Iniciei
os meus estudos primeiramente em História, na UNI_BH, e em Direito, na Faculdade
Dom Helder Câmara, instituição que se preocupa em debater sobre os Direitos
Humanos e fortalecer os agentes dos movimentos sociais. Foi nessa instituição
que aprendi ser necessário pensar os problemas sociais de forma
interdisciplinar e global, a fim de encontrar soluções para os conflitos, em
especial os de Direito Ambiental, que faz parte dos Direitos Humanos.
Ao pensar a educação ambiental,
entende-se que o homem não pode ser visto de forma isolada, já que o que cada
um faz ao planeta reflete na vida de outros seres vivos. A Revolução Industrial
induziu através da produção em série e da propaganda que cada vez mais pessoas
tivessem acesso aos bens produzidos, aumentando também o volume de lixo, que
causa profundo impacto ambiental, sem se preocupar com a durabilidade dos seus
produtos e a reciclagem dos mesmos, pois a ordem é consumir.
É necessário que os movimentos sociais
lutem pela consonância entre ecologia e economia, de forma com que os avanços
tecnológicos respeitem os direitos das minorias, como no caso dos povos
indígenas e quilombolas, que têm o seu direito a terra e à cultura
constantemente violados, em nome do desenvolvimento econômico.
A
Educação Ambiental e o Direito Ambiental surgiram da necessidade de se
preservar o meio ambiente face ao consumismo da sociedade, que resultou do
desenvolvimento industrial e tecnológico, que elevou a produção de bens a
níveis assustadores, acarretando o aumento da poluição em suas variadas formas,
bem como o aumento da exploração dos recursos naturais, o que vem causando
sérios problemas.
Considera-se
a educação como um processo dinâmico e que está em permanente construção, com a
intenção de propiciar a reflexão, o debate e a modificação de cultura para a
preservação e garantia de direitos ambientais de todos os povos, através da
mobilização permanente e contínua da sociedade civil, sendo um ato de pessoas
de todas as partes do mundo, comprometidas com a proteção da vida na terra.
A educação ambiental é essencial na
formação de valores e na ação social, que deve ocorrer no âmbito familiar, nas
escolas e até nas organizações de base religiosa. Por isso se faz imprescindível
a organização de pessoas em escolas, igrejas, sindicato, estabelecimentos
públicos e outros locais para garantir a preservação do ambiente e das pessoas
que nele vivem.
Os movimentos sociais devem estar presentes para
fortalecer e garantir um processo educativo transformador, através de envolvimento
da sociedade, sendo necessário cobrar que os governos façam aquilo que é de sua
competência, e isso só se faz através de muitas lutas e organização. É
necessário repensar os problemas locais e globais, como o aumento da pobreza,
da degradação humana, da violência, que se baseia em excesso de produção e de consumo,
para uns, e em subconsumo e falta de condições para produzir e comprar, para a
grande maioria.
É
fundamental que as comunidades programem suas próprias alternativas às políticas
vigentes. A educação ambiental deve gerar, com urgência, mudanças na qualidade
de vida e maior consciência de conduta pessoal, ressaltando a responsabilidade
dos governos e dos grandes grupos econômicos, que vêm se eximindo de seus encargos.
Para
concluir, é importante termos em mente que a educação é um direito de todos e
dever do Estado, devendo ter como base a consciência local e planetária, o
respeito à autodeterminação dos povos e à soberania das nações, fomentando a
organização de pessoas em movimentos sociais, sindicais e de juventude, que
sejam livres para garantir os direitos ambientais, que são basilares para a
vida em nosso planeta. Entretanto, não se pode negar que educação ambiental não
é neutra, mas ideológica.
Atualmente,
no Brasil, temos movimentos sociais preocupados com a educação ambiental, que
travam lutas mais amplas, que nos permitem refletir sobre a preservação da
história indígena, quilombola e de culturas locais, ressaltando que as comunidades
devem retomar a condução de seus próprios destinos, unidas em uma causa que
seja de caráter socializador, que não seja algo monopolizado pelo Estado.
Temos
como exemplos movimentos de luta o Educafro, o Sinfrajupe, os Movimentos de Atingidos
por Barragens, os movimentos que lutam por melhoria da mobilidade urbana (Passe
Livre), e até mesmo pela organização dos atingidos pela Copa do Mundo, que será
realizada no Brasil em 2014.
Penso
que os programas educativos e as pautas de lutas dos movimentos sociais e de suas
organizações devem ser sempre incentivados e nunca criminalizados.
Sendo
assim, é necessário sensibilizar as populações para que constituam Conselhos Populares
de Ação Ambiental que visem criar condições educativas, jurídicas e políticas
para exigir que os governos destinem parte significativa de seu orçamento à
educação e ao meio ambiente, e realizem ações conjuntas referentes aos direitos
humanos, aquecimento global, crescimento populacional, erradicação do racismo,
da homofobia e outros preconceitos.
Os
governos devem atender às demandas apresentadas pelos movimentos sociais,
investindo prioritariamente os seus recursos em educação, do nível básico ao
superior, para o apoio ao ensino e pesquisa em educação ambiental, como também
fomentar adesão e valorização dos cursos comunitários e ao desenvolvimento das
classes populares, visando promover maior igualdade social, fortalecer os movimentos
sociais para o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida e do meio
ambiente, sem criminalizar esses movimentos.