quinta-feira, 10 de abril de 2014

Educação Ambiental e os Movimentos Sociais: A Responsabilidade é Global
 Lídice Gomes Pimenta da Silva Pereira.

  Sou professora de História da Rede Pública de Ensino e coordeno o Pré-Vestibular Comunitário Educafro de Governador Valadares, tendo outras militâncias nos movimentos sindical e social, como no Sinfrajupe, que é um movimento das bases da Igreja Católica que luta por Justiça, Paz e Ecologia.

 Iniciei os meus estudos primeiramente em História, na UNI_BH, e em Direito, na Faculdade Dom Helder Câmara, instituição que se preocupa em debater sobre os Direitos Humanos e fortalecer os agentes dos movimentos sociais. Foi nessa instituição que aprendi ser necessário pensar os problemas sociais de forma interdisciplinar e global, a fim de encontrar soluções para os conflitos, em especial os de Direito Ambiental, que faz parte dos Direitos Humanos.

Ao pensar a educação ambiental, entende-se que o homem não pode ser visto de forma isolada, já que o que cada um faz ao planeta reflete na vida de outros seres vivos. A Revolução Industrial induziu através da produção em série e da propaganda que cada vez mais pessoas tivessem acesso aos bens produzidos, aumentando também o volume de lixo, que causa profundo impacto ambiental, sem se preocupar com a durabilidade dos seus produtos e a reciclagem dos mesmos, pois a ordem é consumir.

É necessário que os movimentos sociais lutem pela consonância entre ecologia e economia, de forma com que os avanços tecnológicos respeitem os direitos das minorias, como no caso dos povos indígenas e quilombolas, que têm o seu direito a terra e à cultura constantemente violados, em nome do desenvolvimento econômico.

 A Educação Ambiental e o Direito Ambiental surgiram da necessidade de se preservar o meio ambiente face ao consumismo da sociedade, que resultou do desenvolvimento industrial e tecnológico, que elevou a produção de bens a níveis assustadores, acarretando o aumento da poluição em suas variadas formas, bem como o aumento da exploração dos recursos naturais, o que vem causando sérios problemas.

 Considera-se a educação como um processo dinâmico e que está em permanente construção, com a intenção de propiciar a reflexão, o debate e a modificação de cultura para a preservação e garantia de direitos ambientais de todos os povos, através da mobilização permanente e contínua da sociedade civil, sendo um ato de pessoas de todas as partes do mundo, comprometidas com a proteção da vida na terra.

A educação ambiental é essencial na formação de valores e na ação social, que deve ocorrer no âmbito familiar, nas escolas e até nas organizações de base religiosa. Por isso se faz imprescindível a organização de pessoas em escolas, igrejas, sindicato, estabelecimentos públicos e outros locais para garantir a preservação do ambiente e das pessoas que nele vivem.
 Os movimentos sociais devem estar presentes para fortalecer e garantir um processo educativo transformador, através de envolvimento da sociedade, sendo necessário cobrar que os governos façam aquilo que é de sua competência, e isso só se faz através de muitas lutas e organização. É necessário repensar os problemas locais e globais, como o aumento da pobreza, da degradação humana, da violência, que se baseia em excesso de produção e de consumo, para uns, e em subconsumo e falta de condições para produzir e comprar, para a grande maioria.

 É fundamental que as comunidades programem suas próprias alternativas às políticas vigentes. A educação ambiental deve gerar, com urgência, mudanças na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, ressaltando a responsabilidade dos governos e dos grandes grupos econômicos, que vêm se eximindo de seus encargos.

Para concluir, é importante termos em mente que a educação é um direito de todos e dever do Estado, devendo ter como base a consciência local e planetária, o respeito à autodeterminação dos povos e à soberania das nações, fomentando a organização de pessoas em movimentos sociais, sindicais e de juventude, que sejam livres para garantir os direitos ambientais, que são basilares para a vida em nosso planeta. Entretanto, não se pode negar que educação ambiental não é neutra, mas ideológica.
Atualmente, no Brasil, temos movimentos sociais preocupados com a educação ambiental, que travam lutas mais amplas, que nos permitem refletir sobre a preservação da história indígena, quilombola e de culturas locais, ressaltando que as comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos, unidas em uma causa que seja de caráter socializador, que não seja algo monopolizado pelo Estado.
Temos como exemplos movimentos de luta o Educafro, o Sinfrajupe, os Movimentos de Atingidos por Barragens, os movimentos que lutam por melhoria da mobilidade urbana (Passe Livre), e até mesmo pela organização dos atingidos pela Copa do Mundo, que será realizada no Brasil em 2014.
Penso que os programas educativos e as pautas de lutas dos movimentos sociais e de suas organizações devem ser sempre incentivados e nunca criminalizados.
Sendo assim, é necessário sensibilizar as populações para que constituam Conselhos Populares de Ação Ambiental que visem criar condições educativas, jurídicas e políticas para exigir que os governos destinem parte significativa de seu orçamento à educação e ao meio ambiente, e realizem ações conjuntas referentes aos direitos humanos, aquecimento global, crescimento populacional, erradicação do racismo, da homofobia e outros preconceitos.

Os governos devem atender às demandas apresentadas pelos movimentos sociais, investindo prioritariamente os seus recursos em educação, do nível básico ao superior, para o apoio ao ensino e pesquisa em educação ambiental, como também fomentar adesão e valorização dos cursos comunitários e ao desenvolvimento das classes populares, visando promover maior igualdade social, fortalecer os movimentos sociais para o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente, sem criminalizar esses movimentos.