domingo, 27 de março de 2011

Estudante presa porque portava uma bandeira

Gabriela Costa foi uma das três mulheres presas em 18 de março, no protesto contra a vinda de Obama. Como os outros, também foi pega de surpresa pela PM. A polícia escolheu de forma aleatória quem seria preso, mas deu preferência a ativistas que, como Gabriela, carregavam faixas ou bandeiras.

“Fui presa porque estava com uma bandeira” , conta Gabriela. “Eu estava voltando para a Cinelândia reencontrar o restante dos companheiros, quando apareceu a PM e mandou largar as bandeiras e sentar no chão” , conta. Lá mesmo, eles tiveram as bolsas revistadas e foram encaminhados à delegacia. “Só depois ficamos sabendo que apareceu uma mochila com pedras, coquetel molotov” , conta.

O que seria mais um caso de arbitrariedade, no entanto, foi ganhando uma dimensão maior. Após passarem a madrugada toda na delegacia, os militantes souberam que iriam para presídios: “Foi um pânico, chorei bastante, entrei em choque; os meninos me abraçaram, me diziam que era importante ser forte nessa hora, mas todo mundo ficou muito abalado”.

Presas políticas
As três mulheres seguiram então para o presídio de Bangu 8, incluindo aí Maria de Lourdes, 69 anos, que simplesmente passava pela rua quando encontrou a manifestação e resolveu se juntar ao protesto.

Lá, dividiram uma cela de 14 metros quadrados, isoladas das outras presas. “Sabiam que não éramos presas comuns, as inspetoras sabiam que éramos presas políticas” , relata Costa. Questionada se as inspetoras chegaram a usar o termo “presa política”, Gabriela diz: “sim, era isso o que elas diziam” .

O fato de serem reconhecidas como presas políticas, no entanto, não as livrou de constrangimentos. Como o de serem revistadas nuas assim que chegaram, antes de receber o uniforme de detentas.

Já nas celas, elas receberam a orientação de não saírem para os banhos de sol. “Assim que chegamos fomos tratadas com hostilidade pelas outras presas, elas gritavam coisas como ‘terroristas desgraçadas” , relata Gabriela, ressaltando que o tratamento foi mudando assim que souberam o que realmente tinha acontecido.

Tanto que ajudaram a pedir ajuda quando a senhora Maria de Lourdes teve uma convulsão na cela. “Ela passou muito mal o dia todo, aí à noite ela ficou chamando pela filha e começou a ter uma convulsão”, relata. As duas ativistas começaram a gritar por socorro, no que foram ajudadas pelas detentas do corredor.

“Demorou muito até aparecer alguém, mas aí apareceu uma inspetora e a Maria de Lourdes pôde ir para o hospital” , relembra. No hospital a senhora foi medicada e logo voltou para a cela.

As companheiras de cela, porém, ficaram apreensivas, pois outras detentas lhe informaram que as presas que iam ao hospital costumavam apanhar. Felizmente, Maria de Lourdes não sofreu agressões. “Ela era o centro de nossa preocupação, não dormíamos para que ela pudesse descansar”, conta Gabriela.

Medo e apreensão
O tempo passava e a apreensão das ativistas presas só aumentava. “A gente ficou bastante assustada, angustiada”diz. Elas passaram todo o sábado e o domingo confinadas na cela. Tempo em que puderam testemunhar a barbárie do sistema prisional. Como ver mulheres grávidas sendo agredidas e convivendo em celas superlotadas.

Foi só na segunda-feira que o medo e a apreensão foram diminuindo. “O genro da dona Maria é advogado e ele foi lá levar o alvará de soltura dela. Ela até desmaiou quando soube que seria solta”. As outras presas perceberam então que também seriam soltas, o que só foi acontecer no início da noite.

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